terça-feira, 17 de junho de 2014

O Filme do Mês

A Cidade Branca
Dans La Ville Blanche


Realizador: Alain Tanner
               Com: Bruno Ganz, Teresa Madruga, Julia Vonderlinn, 
José Carvalho Francisco Baião, Victor Costa, 
Lídia Franco, Pedro Efe, Cecília Guimarães, Joana Vicente.
Música: Jean-Luc Barbier
Produção: Paulo Branco, Alain Tanner e António Vaz da Silva
Duração: 104 min.
Idade: M/16
Género: Drama
País de Origem: Portugal/Suíça
Ano: 1983, Côr
Sinopse

Paul (Bruno Ganz) é um marinheiro suíço que desembarca em Lisboa, onde decide ficar por algum tempo. Instala-se num quarto, de frente para a zona ribeirinha, e durante dias dedica-se a fazer pequenos filmes da cidade, na sua super-8 mm, que depois envia para a mulher, juntamente com as cartas que lhe vai escrevendo. Até conhecer Rosa (Teresa Madruga), empregada de mesa, com quem vive uma estranha paixão. Em "A Cidade Branca", o realizador Alain Tanner reflecte, mais uma vez, sobre a solidão e a inconstância, num filme em que a luz especial que banha Lisboa é captada de forma inesquecível pela fotografia de Acácio de Almeida. Com esta obra, Alain Tanner foi nomeado, em 1983, para o Urso de Ouro do Festival de Berlim e ganhou, em 1984, o César para o melhor filme estrangeiro.
A autora

Teolinda Gersão nasceu em Coimbra, estudou Germanística, Romanística e Anglística nas Universidades de Coimbra, Tübingen e Berlim, foi Leitora de Português na Universidade Técnica de Berlim, assistente na Faculdade de Letras de Lisboa e depois de provas académicas professora catedrática da Universidade Nova de Lisboa, onde ensinou Literatura Alemã e Literatura Comparada. A partir de 1995 passou a dedicar-se exclusivamente à literatura.
Além da permanência de três anos na Alemanha viveu dois anos em São Paulo, Brasil, e conheceu Moçambique, onde decorre o romance de 1997 A Árvore das Palavras.
Autora sobretudo de romances, publicou até agora duas novelas (Os Teclados e Os Anjos) e duas colectâneas de contos (Histórias de Ver e Andar e A Mulher que prendeu a Chuva).Três dos seus livros foram adaptados ao teatro e encenados em Portugal, Alemanha e Roménia: Os Teclados por Jorge Listopad no Centro Cultural da Belém, 2001; Os Anjos por por João Brites e o grupo O Bando, 2003; A Casa da Cabeça de Cavalo ganhou o Grande Prémio do Festival Internacional de Teatro de Bucareste, Roménia, em 2005, com encenação de Eusebiu Stefanescu. Encenada também na Alemanha por Beatriz de Medeiros Silva e o grupo Os Quasilusos, em 2005.
Foi escritora-residente na Universidade de Berkeley em 2004.
O seu livro mais recente é As Águas Livres (2013).
Vive em Lisboa


O Livro do Mês
"A Cidade De Ulisses", de Teolinda Gersão


Sinopse
Um homem e uma mulher encontram-se e amam-se em Lisboa. A sua história, que é também uma história de amor por uma cidade, levará o leitor a percorrer múltiplos caminhos, entre os mitos e a História, a realidade e o desejo, a literatura e as artes plásticas, o passado e o presente, as relações entre homens e mulheres, a crise civilizacional e a necessidade de repensar o mundo.
«Os turistas vão à procura de lugares para fugirem de si próprios, e logo os trocam por outros e fogem para mais longe. Os viajantes vão à procura de si noutros lugares, e nenhum esforço lhes parece demasiado e nenhum passo excessivo, tão grande é o desejo de chegarem ao seu destino. Com sorte conseguem encontrar a cidade que procuram. Ao menos uma vez na vida.»


Novidades para Junho e Julho!

O nosso Livro do Mês será "A Cidade de Ulisses", de Teolinda Gersão e o filme, com debate, "A Cidade Branca" de Alain Tanner.
Faremos uma sessão pública, com exibição do filme e debate, a seguir, no dia 21 de Junho. A discussão do livro será no dia 5 de Julho.
Ambas as actividades no sítio do costume, o Espaço Musas! Contamos com a vossa presença!

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Sábado, 31 de Maio, pelas 21h15, no Espaço Musas

(A Costa dos Murmúrios, de Margarida Cardoso)

A Letre7ra avança com a segunda iniciativa pública do seu segundo Livro do Mês.
Desta vez, foi escolhido A Costa do Murmúrios, de Lídia Jorge, tendo como cenário a decadência do colonialismo e a Guerra Colonial em Moçambique.
Programa:
- Breve apresentação da iniciativa e do livro escolhido para este mês
- Exibição do filme A Costa dos Murmúrios, de Margarida Cardoso
- Tertúlia /debate à volta do livro: A Costa dos Murmúrios, de Lídia Jorge

NOTA: Uma vez que o filme a exibir tem a duração de 1h55m, pedimos que estejam no espaço mesmo às 21h15, de forma a garantir tempo para um pequeno debate sobre o livro e o filme, a seguir.
Dependendo do interesse dos presentes, poder-se-á agendar uma sessão exclusivamente para debate e discussão do livro, futuramente.

Contamos com a vossa presença! ;)

sexta-feira, 2 de maio de 2014

A autora...

Lídia Jorge nasceu em Boliqueime, Algarve, em 1946. Licenciou-se em Filologia Românica pela Universidade de Lisboa, tendo sido professora do Ensino Secundário. Foi nessa condição que passou alguns anos decisivos em Angola e Moçambique, durante o último período da Guerra Colonial. A publicação do seu primeiro romance, O Dia dos Prodígios (1980) constituiu um acontecimento num período em que se inaugurava uma nova fase da Literatura Portuguesa. Seguiram-se os romances O Cais das Merendas (1982) e Notícia da Cidade Silvestre (1984), ambos distinguidos com o Prémio Literário Cidade de Lisboa. Mas foi com A Costa dos Murmúrios (1988), livro que reflecte a experiência colonial passada em África, que a autora confirmou o seu destacado lugar no panorama das Letras portuguesas. Entre outros romances, conta-se O Vale da Paixão (1998) galardoado com o Prémio Dom Dinis da Fundação da Casa de Mateus, o Prémio Bordallo de Literatura da Casa da Imprensa, o Prémio Máxima de Literatura, o Prémio de Ficção do P.E.N. Clube, e em 2000, o Prémio Jean Monet de Literatura Europeia, Escritor Europeu do Ano. Passados quatro anos, Lídia Jorge publicou O Vento Assobiando nas Gruas (2002), romance que mereceu o Grande Prémio da Associação Portuguesa de Escritores e o Prémio Correntes d’Escritas.

A autora publicou ainda duas antologias de contos, Marido e Outros Contos (1997) e O Belo Adormecido (2003), para além das publicações separadas de A Instrumentalina (1992) e O Conto do Nadador (1992). A peça de teatro A Maçon foi levada à cena no Teatro Nacional Dona Maria II, em 1997. O romance A Costa dos Murmúrios foi recentemente adaptado ao Cinema por Margarida Cardoso. Os romances de Lídia Jorge encontram-se traduzidos em diversas línguas. Em 2006, a autora foi distinguida na Alemanha, com a primeira edição do Albatroz, Prémio Internacional de Literatura da Fundação Günter Grass, atribuído pelo conjunto da sua obra. Combateremos a Sombra, apresentado no dia 22 de Março, na Casa Fernando Pessoa, em Lisboa, é o seu mais recente romance, e o Grande Prémio SPA-Millennium a sua mais recente distinção.

Em Portugal todos os seus livros têm a chancela das Publicações Dom Quixote

www.lidiajorge.com

Livro do mês de Maio!


"Publicado em 1988, este romance é uma das obras centrais da escritora.
A acção decorre entre os finais dos anos sessenta e princípio dos anos setenta, em pleno ambiente de guerra colonial, e o livro apresenta-se como uma espécie de testemunho vivido no momento da liquidação definitiva do Império Português. Mais concretamente, passa-se em Moçambique, e tem como palco privilegiado o Hotel Stella Maris,  local onde as mulheres dos oficiais permanecem quando os maridos partem para missões no mato. É aí, num ambiente de grande tensão emocional, que o futuro de todos se joga, e o risco de viver ou sobreviver se torna permanente. Interpretam o jogo do acaso dois casais, Eva Lopo e o alferes Luís Alex, e Helena de Tróia e seu marido Capitão Forza Leal. A partir do jogo dos seus destinos, a narrativa questiona o papel do poder do Estado sobre os indivíduos, e sobretudo o sentido trágico da própria História."

www.lidiajorge.com

quarta-feira, 26 de março de 2014

E o livro do mês escolhido é:
Na Penúria em Paris e em Londres, de George Orwell


«É curioso verificar como certas pessoas pensam que têm todo o direito de nos dirigir sermões e de nos fazer ouvir as suas rezas mal os nossos rendimentos descem abaixo de certo nível.» G. Orwell

segunda-feira, 10 de março de 2014

Mitos

A propósito da tertúlia no sábado passado. Ao dizermos que a emigração portuguesa de hoje é altamente qualificada acabamos por cair num mito.

Ler aqui a notícia do Público


quinta-feira, 6 de março de 2014

Na Penúria, em Paris e em Londres, George Orwell

«Sete da manhã, na rue du Coq d’Or, Paris. Sobe da rua uma enfiada de gritos estridentes e furiosos. Madame Monce, a dona do pequeno hotel que fica precisamente diante do meu, desceu para o passeio, e daí dirige as suas imprecações contra uma locatária do terceiro andar. Tem os pés sem meias enfiados em socos e o cabelo grisalho desgrenhado.
Madame Monce: Salope! Salope! Quantas vezes te disse já para não esmagares os percevejos contra o papel da parede? Estás convencida que compraste o hotel, não? Não podes atirar os bichos pela janela como toda a gente? Putain! Salope!
A mulher do terceiro andar: Vieille vache!
Irrompe, entretanto, um coro discordante de uivos, e as janelas abrem-se de todos os lados, enquanto metade da rua se encontra já envolvida na zaragata. Mas tudo se cala de súbito, passados dez minutos, porque um esquadrão de cavalaria atravessa a rua e toda a gente fica a vê-lo passar.
Este breve apontamento destina-se apenas a transmitir ao leitor um pouco do espírito da rue du Coq d’Or. Não é que lá as zaragatas fosse o único acontecimento observável – mas é verdade que raramente se passava uma manhã sem a ocorrência de pelo menos uma crise como a que acabo de descrever. Brigas e os gritos desolados dos vendedores ambulantes, os berros das crianças dedicadas à apanha de cascas de laranja no chão, e, com a noite, cantigas entoadas a plenos pulmões, de mistura com o cheiro azedo dos caixotes do lixo – tal era a atmosfera peculiar da rua.»
(…)
Na penúria em Paris e em Londres, George Orwell (Ed. Antígona)

Pátria, Guerra Junqueiro

"Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta. [.]

Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira a falsificação, da violência ao roubo, donde provem que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro. Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País.

A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.

Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar."

Guerra Junqueiro, in 'Pátria (1896)'

Sobre os dois livros propostos

Pátria, de Guerra Junqueiro "De todas as obras escritas por Guerra Junqueiro, a "Pátria" é sem dúvida aquela que maior impacto teve no seu tempo e a que, ainda hoje, decorrido mais de um século sobre a sua primeira publicação, em 1896, se mantém tão viva quanto actual. No plano político e social, ressalvadas as diferenças de regime e governação e o período conturbado que provocou a queda da monarquia e a implantação da República, muitas são as semelhanças que se poderão encontrar com os dias de hoje no que respeita à forma de fazer política e conquistar o poder, ao arrepio dos interesses e do bem-estar colectivos, e à passividade com que a população mais desfavorecida acata as crescentes desigualdades sociais e económicas. Se no tempo da monarquia a situação do país era degradante e ruinosa que dizer do Portugal actual? De um país sem autêntica autonomia governativa e independência económica, subalterno perante uma União Europeia dominada pelos países ricos?"
introdução da última edição do livro, Editora Vega




Na Penúria , em Paris e em Londres, de George Orwell
"George Orwell (Eric Arthur Blair) regressou a Inglaterra, vindo de Paris, no Natal de 1929. Os três anos seguintes passou-os a vagabundear, experimentando altos e baixos: redigiu recensões, artigos importantes, foi professor e escreveu e reescreveu Na penúria em Paris e em Londres, que seria rejeitado sucessivamente até chegar às mãos do editor Victor Gollancz. O livro acabou por cativar a crítica, apesar da relutância dos livreiros e do receio de Orwell. Através da personagem Bozo, é Orwell que discorre acerca da pobreza e investe sobre a dignidade de todos os seres humanos, mesmo os pedintes sem eira nem beira: «É curioso verificar como certas pessoas pensam que têm todo o direito de nos dirigir sermões e de nos fazer ouvir as suas rezas mal os nossos rendimentos descem abaixo de certo nível.» A descrição de Orwell é brutal, desalentadora, injectando sofrimento e aviltação na essência de cada um de nós, mas é perpassada por momentos divertidos e comoventes. Orwell tenta deste modo contar a história dos homens com quem se vai cruzando, vidas perdidas que apenas o encontro resgata. Desde a primeira edição (1933) prevalece a questão de como destrinçar a realidade da ficção. Como na maior parte da sua obra, de facto, Orwell trabalha com mestria e de forma importante e valiosa na fronteira entre o documentário e a ficção, mas a sua escrita está indubitavelmente fundada e enraizada no mundo que descreve. E talvez seja esse o maior «ensinamento» de Orwell: revelar-nos que o quotidiano daqueles que vivem na mais absoluta penúria se resume quase exclusivamente à eterna luta por encontrar comida e um sítio para dormir." 
 introdução da edição publicada pela Editora Antígona.



Qual será o livro do próximo mês?






o Letre7ra está já a pensar no livro para o próximo mês!  ;)
para já, temos duas propostas: Pátria, de Guerra Junqueiro e Na Penúria, em Paris e em Londres, de George Orwell.
Gostaríamos de saber a vossa opinião!
Propostas de mais livros para os meses seguintes são bem-vindas!;)


sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Um excerto do filme a exibir, no próximo dia 8 de Março ;)



O Imigrante /The Immigrant
(E.U.A, P/B, 1917,  20 min)



Realização: Charlie Chaplin
Argumento:  Charles Chaplin, Vincent Bryan, Maverick Terrell
Produção:John Jasper
Elenco: Charles Chaplin, Edna Purviance, Eric Campbell, Albert Austin, Henry Bergman, Kitty Bradbury, Frank J. Coleman, Tom Harrington, James T. Kelly, John Rand.

SINOPSE:


Charlie e Edna viajam a bordo de um velho navio para a América, em busca de uma vida melhor. Porém, ao chegarem aos Estados Unidos, apercebem-se dos maus tratos de que os imigrantes eram alvo naquela época.



LETRE7RA

1ª SESSÃO PÚBLICA - EMIGRANTES
SÁBADO, 08 Março 2014 - 21H30
no
ESPAÇO MUSAS
Rua do Bonjardim, nº 998
4000-121 Porto

ENTRADA LIVRE 

PROGRAMA
- Breve apresentação da iniciativa e do livro escolhido para este mês;
- Exibição da curta-metragem O Imigrante, de Charlie Chaplin;
- Tertúlia /debate á volta do livro Emigrantes, de Ferreira de Castro;
- Divulgação do próximo livro, para o mês seguinte.

Uma iniciativa:
Pintar o 7 - Cinema, Cidade, Cultura
e
ESPAÇO MUSAS

CONTAMOS COM A VOSSA PRESENÇA!

Visitem a nossa página no facebook:
www.facebook.com/Letre7ra

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Immigrants...


Sobre o autor do Livro do Mês

Ferreira de Castro

"Escritor português, grande precursor do Neorrealismo em Portugal, nasceu em Oliveira de Azeméis em 1898 e faleceu em 1974. Depois de ter terminado os estudos primários, emigrou para o Brasil, para trabalhar como empregado de armazém no seringal Paraíso, na selva amazónica. Viveu durante alguns anos em Belém do Pará, aí prosseguindo com grandes dificuldades as suas primeiras tentativas literárias e publicando o romance juvenil Criminoso por Ambição. Em 1919, regressa a Portugal, ingressando no jornalismo, colabora com várias publicações; funda a revista A Hora: revista panfleto de arte, actualidades e questões sociais (1922), o jornal O Luso, o grande magazine mensal Civilização (1928-1937); colabora com O Diabo e com O Século e edita as suas primeiras obras. Entre 1923 e 1927 publica várias novelas - que viria mais tarde a renegar - até, em 1928, ao publicar Emigrantes (história de um pobre aventureiro fracassado) se consagrar como romancista numa ficção onde a pesquisa estética é submetida a ideais humanísticos e sociais. Em 1903 publica A Selva, um dos livros portugueses mais traduzidos em todo o mundo, concebido sob a forma de romance, que foca o drama dos trabalhadores dos seringais na Amazónia e corresponde a uma fase humanista, não excluindo uma objetividade quase fotográfica, com muito de reportagem e de situações vivamente descritas. Com efeito, a publicação de Emigrantes, seguida de A Selva, alcançando um êxito extraordinário, no Brasil e noutros países, apontava, segundo Álvaro Salema, in Ferreira de Castro - A sua vida, a sua personalidade, a sua obra, Lisboa, 1974, "insuspeitadas possibilidades de um realismo novo".
A grande força do fulgurante itinerário romanesco de Ferreira de Castro, segundo o mesmo estudioso, "não era apenas a de um realismo novo, vivido e posto à prova, igualmente, numa experiência pessoal dramaticamente sofrida e na observação franca, corajosa e simples de mundos humanos nunca anteriormente revelados. Não era, somente, a de uma técnica narrativa colhida diretamente da verdade existencial, com limitado apport de leituras antecipantes, e servida por um estilo singelo, de expressão clara e imediatamente comunicativa, tão sugestionadora para o leitor de escol que soubesse entendê-las nessa autenticidade como para o homem do povo sem formação prévia de leitor. A força maior da criação literária que Ferreira de Castro vinha desvendar era, afinal, a de uma nova forma de humanismo, representada na ficção romanesca."
Com Terra Fria e A Lã e a Neve, o autor procede a uma nova metodologia de criação romanesca, baseada na observação in loco do meio e problemas sociais que o romance focaliza, num esboço de história natural, onde tenta transmitir um mundo rural miserável, à margem da civilização, protagonizado por gente simples e despecuniada. As dificuldades levantadas pelo regime salazarista à livre expressão do pensamento obrigam, posteriormente, o autor a abandonar o ciclo romanesco que se propusera para se dedicar às impressões de viagem, dedicando-se, entre 1959 e 1963, à publicação de As Maravilhas Artísticas do Mundo ou a Prodigiosa Aventura do Homem Através da Arte. Deste modo, para Álvaro Salema, as obras de Ferreira de Castro inscrevem-se em três grandes categorias: um primeiro ciclo de romances inspirado na "experiência pessoal" e na "observação experimentada", a que correspondem os romances Emigrantes, A Selva, Eternidade, Terra Fria e A Lã e a Neve; os livros de "viajante, empenhado com inteira adesão de vida interior na descoberta e desvendamento da experiência histórica e social da humanidade através das suas expressões multímodas", com Pequenos Mundos e Velhas Civilizações e A Volta ao Mundo; e uma terceira direção que opera uma "inflexão renovada e renovadora para a análise mais complexa e diversificada dos conflitos interiores em equação com realidades sociais e históricas mais vastas", consubstanciada nos romances A Curva da Estrada, O Instinto Supremo e A Missão (id. Ibi., p. 40). Recebendo homenagens literárias em vários países e vendo os seus livros traduzidos em várias línguas, Ferreira de Castro assistiria ao culminar do reconhecimento da sua obra com uma vibrante celebração do seu cinquentenário de vida literária, em Portugal e no Brasil, e com, após a publicação de O Instinto Supremo, em 1968, a apresentação pela União Brasileira de Escritores da candidatura conjunta de Ferreira de Castro e de Jorge Amado ao Prémio Nobel de Literatura. Esta adesão à obra de Ferreira de Castro é indissociável da admiração que grande número de leitores votou à atitude de inflexível resistência do escritor, à sua determinação de não compactuar de qualquer modo com o regime, postura manifestada, por exemplo, na decisão de não colaborar com a imprensa portuguesa enquanto vigorasse o regime de censura, no facto de não permitir que nenhuma obra sua fosse adaptada a um cinema financiado pelo Estado ou na adesão a movimentos democráticos. Recebeu, entre outras distinções, o Prémio Internacional Águia de Ouro do Festival do Livro de Nice e foi eleito, em 1962, presidente da Direção da Sociedade Portuguesa de Escritores."

-Ferreira de Castro. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2014. [Consult. 2014-02-17]

O Livro do Mês "Emigrantes", Ferreira de Castro


"Os homens transitam do Norte para o Sul, de Leste para Oeste, de país para país, em busca de pão e de um futuro melhor. É assim que começa o romance Emigrantes, de Ferreira de Castro.

Sem sombra de dúvidas, a obra Emigrantes, publicada em 1928, é uma das obras mais importantes de sua carreira pois é considerada uma das precursoras do Neo-Realismo em Portugal. É com este romance que se inicia definitivamente a sua carreira literária.

Manuel da Bouça é o personagem central deste romance. Ao regressar à sua terra, depois de uma estadia de alguns anos no Brasil, até a visão de "...um velho moinho com as suas quatro pétalas - um muro em ruínas...Que lindo! Que lindo! constitui motivo para que se emocione. Símbolo de todos os emigrantes, Manuel representa o indivíduo inserido em sua comunidade que, como todos os outros, nutre uma série de sonhos e aspirações.

Ferreira de Castro, com a publicação deste romance, talvez já intuísse e observasse a transformação do mundo que o século XXI agora tanto se esforça por compreender. Neste livro descortina-se a condição do homem, o eterno emigrante. O autor procura desconstruir o imaginário português sobre a emigração para o Brasil e também denunciar a sua exploração económica."

(passeiweb)

Letre7ra é uma iniciativa conjunta da associação Pintar o 7 e do Espaço Musas. É nosso objectivo a criação de um espaço que permita reunir as pessoas à volta do gosto pelos livros, pela discussão e partilha de ideias, pela beleza de um texto literário.

Num tempo em que as ideologias e práticas vigentes do poder instituído pretendem tornar-nos, cada vez mais, num rebanho acéfalo e bem comportado, é importante que o primado da razão e do sentir seja o património que nos faça manter uma identidade própria.

Abriremos, de par em par, as portas da nossa sala de convívio a todos os que queiram chegar-se a nós, na expectativa de sessões de discussão acesa, de profícua partilha de ideias e de caminhos novos a encontrar e percorrer.

Através da realização de sessões públicas, faremos a abordagem das obras escolhidas, de uma forma aberta e informal. Haverá, também, lugar para darmos boleia ao nosso gosto pela sétima arte, pelo que se fará a exibição de filmes, curtas-metragens e documentários que estejam relacionados com as obras em discussão.

No blogue, criado para esta iniciativa, serão publicadas todas as informações necessárias, como as datas das sessões públicas, os livros propostos para leitura, enfim tudo o que se relacione com esta actividade.

E, posto isto, mãos à obra!

No dia 1 de Março, realizar-se-á a nossa primeira sessão pública.

Contamos com todos os que queiram iniciar connosco esta viagem, através do pensamento e das palavras!