quinta-feira, 6 de março de 2014

Sobre os dois livros propostos

Pátria, de Guerra Junqueiro "De todas as obras escritas por Guerra Junqueiro, a "Pátria" é sem dúvida aquela que maior impacto teve no seu tempo e a que, ainda hoje, decorrido mais de um século sobre a sua primeira publicação, em 1896, se mantém tão viva quanto actual. No plano político e social, ressalvadas as diferenças de regime e governação e o período conturbado que provocou a queda da monarquia e a implantação da República, muitas são as semelhanças que se poderão encontrar com os dias de hoje no que respeita à forma de fazer política e conquistar o poder, ao arrepio dos interesses e do bem-estar colectivos, e à passividade com que a população mais desfavorecida acata as crescentes desigualdades sociais e económicas. Se no tempo da monarquia a situação do país era degradante e ruinosa que dizer do Portugal actual? De um país sem autêntica autonomia governativa e independência económica, subalterno perante uma União Europeia dominada pelos países ricos?"
introdução da última edição do livro, Editora Vega




Na Penúria , em Paris e em Londres, de George Orwell
"George Orwell (Eric Arthur Blair) regressou a Inglaterra, vindo de Paris, no Natal de 1929. Os três anos seguintes passou-os a vagabundear, experimentando altos e baixos: redigiu recensões, artigos importantes, foi professor e escreveu e reescreveu Na penúria em Paris e em Londres, que seria rejeitado sucessivamente até chegar às mãos do editor Victor Gollancz. O livro acabou por cativar a crítica, apesar da relutância dos livreiros e do receio de Orwell. Através da personagem Bozo, é Orwell que discorre acerca da pobreza e investe sobre a dignidade de todos os seres humanos, mesmo os pedintes sem eira nem beira: «É curioso verificar como certas pessoas pensam que têm todo o direito de nos dirigir sermões e de nos fazer ouvir as suas rezas mal os nossos rendimentos descem abaixo de certo nível.» A descrição de Orwell é brutal, desalentadora, injectando sofrimento e aviltação na essência de cada um de nós, mas é perpassada por momentos divertidos e comoventes. Orwell tenta deste modo contar a história dos homens com quem se vai cruzando, vidas perdidas que apenas o encontro resgata. Desde a primeira edição (1933) prevalece a questão de como destrinçar a realidade da ficção. Como na maior parte da sua obra, de facto, Orwell trabalha com mestria e de forma importante e valiosa na fronteira entre o documentário e a ficção, mas a sua escrita está indubitavelmente fundada e enraizada no mundo que descreve. E talvez seja esse o maior «ensinamento» de Orwell: revelar-nos que o quotidiano daqueles que vivem na mais absoluta penúria se resume quase exclusivamente à eterna luta por encontrar comida e um sítio para dormir." 
 introdução da edição publicada pela Editora Antígona.



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