Pátria, de Guerra Junqueiro
"De todas as obras escritas por Guerra Junqueiro, a "Pátria" é sem
dúvida aquela que maior impacto teve no seu tempo e a que, ainda hoje,
decorrido mais de um século sobre a sua primeira publicação, em 1896, se
mantém tão viva quanto actual. No plano político e social, ressalvadas
as diferenças de regime e governação e o período conturbado
que provocou a queda da monarquia e a implantação da República, muitas
são as semelhanças que se poderão encontrar com os dias de hoje no que
respeita à forma de fazer política e conquistar o poder, ao arrepio dos
interesses e do bem-estar colectivos, e à passividade com que a
população mais desfavorecida acata as crescentes desigualdades sociais e
económicas. Se no tempo da monarquia a situação do país era degradante e
ruinosa que dizer do Portugal actual? De um país sem autêntica
autonomia governativa e independência económica, subalterno perante uma
União Europeia dominada pelos países ricos?"
introdução da última edição do livro, Editora Vega
Na Penúria , em Paris e em Londres, de George Orwell
"George Orwell (Eric Arthur Blair) regressou a Inglaterra, vindo de
Paris, no Natal de 1929. Os três anos seguintes passou-os a vagabundear,
experimentando altos e baixos: redigiu recensões, artigos importantes,
foi professor e escreveu e reescreveu Na penúria em Paris e em Londres,
que seria rejeitado sucessivamente até chegar às mãos do editor Victor
Gollancz. O livro acabou por cativar a crítica, apesar da relutância dos
livreiros e do receio de Orwell. Através da personagem Bozo, é Orwell
que discorre acerca da pobreza e investe sobre a dignidade de todos os
seres humanos, mesmo os pedintes sem eira nem beira: «É curioso
verificar como certas pessoas pensam que têm todo o direito de nos
dirigir sermões e de nos fazer ouvir as suas rezas mal os nossos
rendimentos descem abaixo de certo nível.» A descrição de Orwell é
brutal, desalentadora, injectando sofrimento e aviltação na essência de
cada um de nós, mas é perpassada por momentos divertidos e comoventes.
Orwell tenta deste modo contar a história dos homens com quem se vai
cruzando, vidas perdidas que apenas o encontro resgata. Desde a primeira
edição (1933) prevalece a questão de como destrinçar a realidade da
ficção. Como na maior parte da sua obra, de facto, Orwell trabalha com
mestria e de forma importante e valiosa na fronteira entre o
documentário e a ficção, mas a sua escrita está indubitavelmente fundada
e enraizada no mundo que descreve. E talvez seja esse o maior
«ensinamento» de Orwell: revelar-nos que o quotidiano daqueles que vivem
na mais absoluta penúria se resume quase exclusivamente à eterna luta
por encontrar comida e um sítio para dormir."
introdução da edição
publicada pela Editora Antígona.
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